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Boom imobiliário faz de Santos uma cidade pra ricos

Boom imobiliário faz de Santos uma cidade pra ricos

O cenário é decadente. Possui um armazém abandonado e tem como vizinhos alguns depósitos e transportadoras. Mesmo assim, o preço do metro quadrado na região triplicou em três anos. Esta situação, aparentemente contraditória, é apenas um dos efeitos do chamado ‘boom imobiliário’ que há mais de três anos faz de Santos um canteiro de obras, transformando terrenos baldios em jóias raras do mercado imobiliário.

O local citado acima fica no Valongo e abrigará em breve cerca de seis mil petroleiros, espalhados na futura central de operações da Petrobrás – um complexo empresarial imponente de três torres. Só para a compra do terreno, que possui 25 mil metros quadrados, a companhia desembolsou R$ 15 milhões. Tanto investimento não é à toa. As recentes descobertas de petróleo no pré-sal emprestam à Região um papel estratégico no setor petroquímico brasileiro. A expectativa é que até 2014 os investimentos ultrapassem a casa dos R$ 5 bilhões.

Os números são eloquentes. De fato, estamos assistindo a uma grande valorização da região e a expectativa é que ela alcance (em tempo e dimensão) um desenvolvimento nunca visto antes. A questão que se impõe é: quem será beneficiado por esse crescimento? Até agora a “boa onda” ou “cenário positivo”, como repete a exaustão a grande mídia, estão restritos às megaconstrutoras e corretoras de imóveis. São elas as beneficiadas diretas pela valorização imobiliária de Santos. Para se ter uma idéia, o preço do metro quadrado no bairro Valongo pulou de, em média, R$ 500, em 2007, para R$ 1.500 neste ano. E no caso da nova sede da Petrobrás ainda não foi fixado um tijolo sequer no chão. Isso apenas reforça a natureza especulativa do mercado, que impõe à revelia da realidade social da região preços irreais e abusivos.

Exclusão Social
Se para os magnatas da construção civil “o mar está pra peixe”, o mesmo não se pode dizer em relação à maior parte dos moradores de Santos. Numa entrevista ao portal IG o representante do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci) na Baixada Santista, Carlos Ferreira, diagnosticou com precisão o efeito nocivo do boom imobiliário santista. “Santos vai se tornar uma cidade de ricos”.

Não é de hoje que Santos mudou sua cara. A verticalização não está apenas nos prédios de até 30 andares na orla da praia, mas sim em sua estrutura voltada exclusivamente às famílias com alto poder aquisitivo. A maior parte das corretoras restringiu seu campo de atuação à venda de unidades de luxo, com no mínimo três dormitórios. Programas como Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, praticamente não existem, uma vez que limitam o valor do imóvel em R$ 130 mil.

O resultado é a fuga crescente de famílias de média e baixa renda para municípios vizinhos, onde o custo de vida é menor. Casos de petroleiros que foram transferidos para Santos e não suportaram o custo de vida da cidade são cada vez mais frequentes. Alguns mantêm suas famílias na cidade de origem e moram em repúblicas; e há aqueles que usam como saída comprar um imóvel em São Vicente ou Praia Grande.

A elitização vivenciada pela cidade pode ser vista em ruas sofisticadas como a Azevedo Sodré, no Gonzaga, bairro onde o metro quadrado não sai por menos de R$ 5 mil – cifra equivalente a de bairros nobres da Capital como Jardins, Brooklin, Pinheiros e Perdizes. Se por um lado a valorização dos poucos terrenos disponíveis inviabiliza apartamentos a preços populares, por outro estimula e banaliza a venda de unidades de luxo por R$ 2 milhões e coberturas com vista para o mar que podem ser ocupadas por “apenas” R$ 12 milhões.

O debate sobre a forma como essa riqueza será distribuida já tomou conta da categoria petroleira. Por isso, iremos cobrar e exigir das autoridades públicas medidas que bloqueiam a elitização da cidade. Uma das alternativas para combater o avanço indiscriminado da especulação seria, por exemplo, a criação de um imposto progressivo para aqueles terrenos ociosos ou que, nem mesmo, são vendidos, justamente para inflacionar os preços do mercado imobiliário.

O fato é que é necessário estimular a discussão sobre este assunto com toda a população. Os efeitos das novas atividades petrolíferas em Santos e na Baixada Santista não podem ficar restritas às mesas de negociações dos administradores públicos. O Sindipetro-LP, desde já, faz esta cobrança.

3 Respostas para “Boom imobiliário faz de Santos uma cidade pra ricos”

  1. Não sou Petroleiro disse:

    Realmente pensou certo quem descreveu que só quem está ganhando com essa valorização rápida, são as construtoras e imobiliáiras, e digo mais, os Bancos financiadores, todos vão receber, a menos que ocorra aqui o mesmo que no subprime, (mas já isto seria ser catastrófico demais nas previsões). Tal valorização quando muito rápida não é absorvida e , quase certo, costuma ser acompanhada de uma desvalorização, na mesma medida, e em curto prazo , ( é a lei da oferta x procura). Santos é uma locomotiva desgovernada… Ninguém sabe o que está acontecendo de verdade. Existe muita especulação sobre novos Portos, Petro-Sal, etc.
    O que na verdade tenho visto é muita gente que fez a história dessa cidade fazendo as malas e a mudança. Aposentando e indo embora. Os altos Salários ( Portuários, Ex-Cosipanos, Avulsos do Porto) estão hoje com as mudanças ocorridas, cito: “modernização dos Portos” (que muito aviltou salários e postos de trabalho com os acordos entre patrão e empregados e trabalhadores avulsos), de toda a baixada … Santos, Sv, Cubatão… caiu a renda dos chamados trabalhadores marajás ( diziam os agora super-marajás) que são uma dúzia… Isso empobreceu a renda, apesar de dados oficias, acredite quem quiser. Empobrecidos vão-se embora, e moradores fantasmas sobrarão, pois muitos empreendimento são vendidos lajes inteiras para investidores, que mobilizam patrimônio antes aplicados em Renda Fixa ou Poupança que andaram apanhando FEIO da inflação…então é isso… A Adm Pública pouco interessa, o IPTU vai ser pago, ou como agora as execuções fiscais são ultra-mega-flash… Leiloa-se, qualquer valor é melhor que nada, e aí tudo que é preço de imóvel vai despencar NOVAMENTE como estavam a 3 anos atrás… É a onda, quem surfa ( e tem $$$$ poder ganha, quem não tem chpa o dedo e fica mais obre, comendo metade doalmoço pra sobrar pra janta e não ficar sem dormir, pois a fome não deixa ninguem pegar no sono… Deus tenha piedade da humanidade que hj já é 7 bilhões de humanos e o planeta não vai aguentar esse ritmo.

  2. Junior disse:

    Bom, concordo plenamente com o Djalma.
    Isso é uma somatória de culpas infelizmente com o nosso envolvimento também. Fizemos compras de imóveis com preços absurdos e fizemos com que isso aumentasse mais ainda, pois nós todos queremos renda a mais no fim do mês. Mas ai está, não existem empregos com salários de acordo com o minimo de sobrevivência desta cidade e imóveis com preços escandalosos, como ficaria a população? Acredito que jogada em Praia Grande, Mongaguá e por ai vai… Já estamos sem a mesma qualidade de vida de antes e logo logo isto irá se transformar em uma bomba relógio… Sinceramente esperanças já se foram, estamos saindo tarde daqui. Ainda existem lugares belos no Brasil e com possibilidades de empregos melhores.
    Não recomendo Santos pra ninguém a não ser para passeio e só, mas mesmo isso logo logo estará sumindo tb.
    #vergonha

  3. Djalma Moraes disse:

    Concordo plenamente!

    Está havendo um êxodo, no mínimo estranho. Achava-se que com a chegada da Petrobras, os santistas ganhariam novas oportunidades de trabalho e renda, mas, está acontecendo o contrário. Além dos altos valores dos aluguéis e do custo de vida caríssimo, temos a baixa geração de empregos novos, como uma das mais terríveis consequências da transformação da cidade em uma Miami Tupiniquim. Recentemente, no SBT, apareceu uma pesquisa feita em várias cidades do Brasil, que apontou Santos como a segunda cidade mais cara para se almoçar, ficando abaixo, somente do Rio de Janeiro. Precisamos nos mobilizar, pois, se não se concretizar os vaticínios, poderemos nos tornar uma cidade fantasma, que só vive do IPTU.

Esta matéria foi citada nos seguintes sítios eletrônicos:


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